quinta-feira, 31 de julho de 2008

Perdidas lembranças


Tinha acabado de fazer um bolo, mesclado de chocolate com baunilha, e quando abri o armário ali estava o que eu não queria ver, o adoçante e os ‘trequinhos’ de fazer café. Eu não quero mais lembrar os dias, em que você vinha tomar o café, e devorava meu bolo, e ainda gostava do pão que eu fazia na chapa pra você...


---- Faz o pão pra mim querida, eu gosto! [escuto de novo sua voz... não, não escuto mais...]


São lembranças perdidas, que preciso deixar pra trás...
Dias desses abrindo a gaveta do quarto, vi o seu desodorante, ainda tinha um restinho, não abri o pote, eu abri o pote [sim]... não eu não poderia cheirar seu cheiro, que não era seu cheiro, porque o desodorante era sem perfume, mas era você ali naquele potinho, que você trouxe pra deixar guardado aqui, quando você tomava banho... comigo...


---- Pega minha toalha, baby!
---- Eu coloquei ai pra você querido!
---- Mas eu não achei...
---- Tô fazendo seu café, que você pediu que chegou com fome né...
---- Mas, não achei a toalha, vem pegar pra mim?
E fui e ali estava ele, nú e lindo, com aqueles magnéticos olhos...
---- E o café? [Balbuciei bobamente, já sendo beijada, já ajoelhando...]
---- Fica pra depois baby, depois...


Perdidas lembranças, bendito armário da sala de jantar que fui abrir...





imagem e texto by Solange Mazzeto

terça-feira, 29 de julho de 2008

De mim



meus dedos
soltos

sua vontade rubra
seu veneno

lascivo você
mutante amante
que me deixou assim
.
.
.
rubra num instante
pálida em outro
curvada a ti
debruçada acolá




texto by Solange Mazzeto

imagem: desconheço a autoria

Não sei do seu tempo agora




tem dias que chove muito
outros o sol estorrica meu lábio
que seco quer lamber a sua boca
meus passos estão lascivos
minha mãos roçam o ar
tenho pensamentos onde o ouço
mas é só a ilusão
.
.
.
sussurando o ontem




texto by Solange Mazzeto
desconheço a autoria da imagem

O que leva?



O que leva um cara, envolver uma mulher
Dizer pra ela: --- vou te fazer feliz a partir de hoje
Dizer que ama oferecer ou não flores, mas oferecer vida, um respiro...
...alegria e depois como se ela não fosse mais nada, simplesmente ele aperta um botão que ele tem no centro do peito ou do pênis e ‘apaga’ essa mulher
E ainda ele consegue seguir adiante trabalhar, comer, dormir...???
Enquanto a mulher está aonde? Estirada num sofá, sem comer, ou sem dormir, querendo que a morte chegue e lhe ofereça a foice...
Pobre de nós mulheres, que passamos por isso, nos rasgamos ao meio, nos partimos em mil...

Te digo cara, não faça isso não, pensa um pouco, não tem porque iludir, a vida passa raspando, que nem gilete pela face, 'quero só sexo', fale, "é só hoje, é só sexo e nada mais, the end depois da meia-noite, quando o sol raiar não haverá ‘nós dois’, haverá só o sol a te acordar..."
Pensa aí, heim? Agora pensa, só agora, enquanto sua cabeça de baixo tá descansando... ok?



texto by Solange Mazzeto
imagem: desconheço a autoria

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A l e g r i a



Muita alegria, reencontrar, ter, fazer algo pra...
Ontem, tive o prazer imenso de pegar uma cachorrinha de uma ONG, lindas pessoas que se dedicam a fazer outras pessoas felizes, como eu estou agora!
Quando a catei no colo, a certeza de que ela era, “meu açúcar”, mais do que necessitado nesse momento de minha vida.
Você já olhou bem dentro de um olho de um cão? Um cão que te ama? Além da vida?
Eu já tive essa experiência, duas vezes na minha vida, há 14 anos e ontem, quando peguei a Candy, [esse é o nome que minha filha deu a ela].
É uma vira-latinha, tem pessoas que tem preconceito a respeito disso, mas quem não tem um preconceitozinho na vida né?!
Eu amo algumas raças puras, mas os não puros, como a maioria de nós, povo brasileiro, são tão lindos...


A vida é cheia de surpresas, ontem lendo Guimarães Rosa, me surpreendi com o seguinte:


“O correr da vida embrulha tudo.A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,sossega e depois desinquieta.O que ela quer da gente é coragem”

“Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria...Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos...Essa... a alegria que ele quer”

Eu estava [deixarei no passado], numa fase em que perdi um grande amigo e um grande amor, uma pessoa que me deixava alegre, bem alegre, pois isso é um dom dele, mas por pessoas invejosas, maldosas, nossa amizade se findou, e rompemos nosso elo, porque ele não acreditou em minha palavra, palavra essa que por meses a fio, ele queria saber, e queria compartilhar, e mais que isso queria minha opinião pra muita coisa de vital importância na vida dele, mas ele achou melhor ouvir ‘amigos’, enfim, foi um episódio bem triste pra mim...

E pude perceber que tudo tem um porque, tudo tem um ‘real ‘ e um ‘imaginário’. E o meu real agora, é a alegria que voltou pra mim, pois a VIDA, DEUS, o UNIVERSO, percebeu que eu já estava sendo feliz sozinha e que eu tinha coragem pra tanto, e então me abriu as portas, arejou minhas janelas, me presenteou de cor e me deu a Candy!!!

Olha ela aí na foto, coisinha mais que linda mô Deus!


texto by Solange Mazzeto

imagem by Mandy Mendes [minha filha]

domingo, 27 de julho de 2008

Lembranças [eu tinha...]



tinha um vestido estampado e mamãe fazia tranças no cabelo delgado
as fitas azuis ornavam com o lago
tudo era lindo naquele cenário
lembro-me que adorava andar descansa no asfalto [tentei esses dias, mas queimou meu pé], e que antes de ser asfalto era um piche grudento [já grudou piche na pele? é horrível, parece que não vai sair nunca], então pra ir até o bar da esquina de casa [comprar balas e amendoim], tinha que ir pela beiradinha da calçada pra não estragar a sandália, aquelas mesmas que não ‘soltam as tiras’, que era ‘coisa de pobre’, e hoje é quase ‘coisa de rico’
Mas, eu nunca me dei bem com essas sandálias, machucavam o vão do meu dedo, e mamãe mandava colocar manteiga pra ver se eu acostumava aí que danava tudo, escorregava então eu não usava, ou andava descalça, ou era tênis, acho que aí que nasceu minha paixão por tênis... até hoje, tenho vários, não ligo muito pra comprar outro tipo de calçado, mas tênis, é meu vício
eu não gostei do asfalto, tinha meus 7 ou 8 anos, eu gostava dos paralelepípedos, foi a 1ª palavra comprida que decorei, adorava soletrar p-a-r-a-l-e-l-e-p-í-p-e-d-o
fui uma criança feliz, brincava na rua, que gostoso que era ‘pegar’ giz da escola e fazer amarelinha na rua [quando mamãe descobriu que eu pegava os giz da escola, ficou brava e me deu uma caixa enorme de tudo quanto quanto é cor, mas a professora sempre me dava um ‘tocos’ de giz, ela sabia que eu gostava mesmo era do giz da escola...], pra isso serviu bem o tal do asfalto, parecia uma gigantesca lousa , ah... eu amava a escola, gostava de estudar, era ‘caxias’, o sagú que o homem vendia no carrinho na frente da escola, tinha um que era amarelo, era delicioso, no copinho de sorvete...
na rua de casa, tinha o homem do algodão doce, com açúcar cristal amarelo, era tão bom aquele algodão, ele me chamava de índia, por causa dos meus cabelos, eu amava ouvir a buzina e saía correndo com as moedinhas tilintando nas mãos...
ah, e eu tinha gatos, vários deles, todos vira-latas, o que mais amei foi um branco e amarelo, com os olhinhos mais cintilantes que eu já vi nessa vida [será por isso minha queda por gato-cara de olhos claros?]
eu tinha a sutileza de não ver a dor, não ver a pobreza, o que eu tinha era alegria genuína, gostava de ficar de um lado da rua e outra amiga do outro lado pra ver ‘duas’ luas, me intrigava que a lua ‘andava’ comigo e ainda ficava parada onde minha amiga estava...
e as estrelas? como eu gostava de ficar horas olhando pra cima...
e as nuvens? era um divertido jogo, ver as formas, adivinhar quem era...
eu tinha mais coragem de achar a felicidade
ainda hoje quando estou chateada, olho as estrelas, as nuvens, lembro do sagú, hoje em dia moro numa rua de p-a-r-a-l-e-l-e-p-í-p-e-d-o-s, onde vejo o mato crescer entre a cidade, tenho uma roseira que ‘adormece’ quando não estou bem, e renasce quando estou ficando bem, ontem vi brotos nela...



escrita by Solange Mazzeto

imagem by Flickr

sábado, 26 de julho de 2008

Expando

de você
[quero]
o sensor
o sexo
a botina pela sala
a veste da cortina
o surto
e
a fala

escrita by Solange Mazzeto

Fiz um dia... um lar




fiz da minha casa um lar, onde tinha pudim na geladeira e batatas pra fritar
tinha ainda no quintal um pé de amora, e um banco pra sentar
e das plantas um jardim e um pomar
de repente, não mais que de repente, um cheiro forte de éter
desanuviou a terra e o mar
do dia fez-se breu
uma torrente de latim, me ensurdeceu
camadas de folhas meu mundo derreteu
e tudo aconteceu
não mais o ânimo ganhou vida
emudeceu o pássaro na janela de minha rima
e o mundo do meu lar
desapareceu...


desconheço a autoria da imagem

escrita by Solange Mazzeto

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Chorei



é... eu chorei,
do fracasso que senti
me doía os ossos, na água do banho, descia todos os sentimentos
era como se a morte apertasse em desespero a minha garganta
o meu amor
tudo que acreditei um dia
é um dia, eu fui feliz, pari o amor
deixei crescer os sonhos
violei leis de abandono
suspirei um nome santo de um demônio
fiz pão com manteiga na frigideira, ovos fritos com a gema dura
vesti-me de diaba com cinta-liga vermelha
tomei banho de espuma
fiquei bêbada
fiquei sã
agora eu chorei, hoje eu chorei
e acho que estanquei o sangue da ferida
que gemia...


imagem e escrita by Solange Mazzeto

Ausência




Ausência

um buraco lento me lambe
de suspiro sou passante
na dobra da saia, procuro você
errante


escrita e imagem by Solange Mazzeto

Amo e amo



tanto tempo, um dia, nós dois, adolescente de mãos dadas
boca ansiosa, primeiro beijo, derradeiro
nossas roupas, estilo jeans, estilo seda
o tempo pra nós não passa, continuamos juntos por essa estrada
por percalços, dramas, doença, família de um, de outro...
o amor perdura, atura, agüenta, suporta a falta
suporta a agonia de dias sem... você aqui...

nos meus olhos ainda te vejo
o brilho de você ecoa entre meus dedos
o tempo enrugou a vida
mas não a minha alma que continua florida
escrita by Solange Mazzeto
desconheço a autoria da imagem

quarta-feira, 23 de julho de 2008

"Pintas"




"PINTAS"

Pintas que vejo
e pulsando de desejo
quiçá, um dia, meus lábios sintam
(que não em pensamento )

pontos de mar escuro
refletindo teus pedaços de prazer tão certos
luzes que envolvem e fecham o circulo
dos sonhos de olhos abertos

pintas que beijam e lambem
como derrame de tinta numa tela
aconchego de pelos e pele atiçando meu fetiche
desenhado com as gotas mornas de tua seiva

que
pinta
borda
transborda e
goza...

© Fábio Reoli [o poema]
foto de Solange Mazzeto
tratamento da foto por Jean Carlo

terça-feira, 22 de julho de 2008

Da amargura, a sanidade da alfazema



hoje amanheci amargurada, estranhamente aborrecida, com o nada... ontem a noite, cutuquei a onça com vara curta, de tarde, eu tinha sido muito burra, queria ter ligado e dito, oi como você está sem mim? ou nem percebeu que eu não estou mais na sua vida?
Perceber que você não faz falta nenhuma na vida de quem você amou, ama, ou ainda nutre um bom sentimento que sai do seu coração e abrange o oceano todo, é chato!
mas eu não perguntei, não tive coragem pra tanto, desfiz o encanto de olhar na janelinha, preferi o quarto escuro, o breu que um dia me tirou a linda visão que eu tinha... onde e como está esse breu? essa pedra ferina, esse estorvo? sabe que eu me dei conta que nem quero mais saber? não mesmo!
agora estava aguando o jardim, relembrando de fatos históricos pra mim, lembrei que um dia li, que plantar alfazema traz sorte, e aguar ela, dá o que?, mais adiante no quintal, vi a arruda, umas folhas secas amarronzadas, sinal que o ‘mal’ foi pra ela, antes que pra mim...
li que as plantas são criaturas mais que puras, que sempre dão, sem pedir em troca...
tive fases assim, onde só dei, sem nada querer em troca, mas o cara achou que eu queria ele inteiro, todo dia em casa, arrotando e soltando peido...
então, corri do quintal pra dentro, e peguei amendoim torrado e seco, e sentei pra escrever...
quantos preconceitos tenho? quantas palavras soltei sem querer? ou querendo?
a vida fica fútil quando não estou sendo ‘direito’, uns dizem, eu não sei muito da vida do outro, sabe que é uma coisa que não me interessa mesmo? cresci numa cidade pequena, onde o olho das pessoas são grandes demais pra ver o rabo do sujeito, mas eu abominava isso, e até hoje não curto isso direito...
acho avesso demais, espiar os outros por dentro, se querem me contar a contento, ouço com muito zelo, mas senão, fico no meu conceito...
fiz até uma trova pernambucana, risos ecoam de mim agora, tenho sangue nordestino, arretada, sou, não tem [mais] jeito...
às vezes, escapa uma gargalhada de mim mesma, o aperto no peito evapora, o que faço do agora?
volto a aguar as plantas, lavar o quintal o tempo está seco, há dias que São Pedro não quer saber de mandar água...

escrito by Solange Mazzeto
desconheço a autoria da imagem

Adiante



Ir pra onde ir, cavar o poço e subir, tentar de novo, existir...
A meu ver, fazemos isso centenas de vezes ao dia, ao decorrer de sonhos, que exalam a magia...
O mundo por vezes, é gigante demais, assustado demais, é gente se matando de amar, é gente traficando um cocar...
A natureza progride mesmo apunhalada, ela resiste, a barata não morre, os pernilongos, são cães de morte, o morcego faz um zumbido febril, mas enxerga além do norte...
A calamidade pública interrompe uma vida de poucos anos, desespero, guerra na cidade linda, o mar absorto dá ondas, o sol, apesar de tudo, ilumina, e a cidade revive as custas da paisagem linda de morros e alamedas ornamentas com túneis, onde o velocímetro corre soltando fogo...
Que rumo tomar? Pra onde ir?
Não tem o que sustentar... Talvez a fé... O subir de joelhos a escadaria do Senhor do Bonfim, acender uma vela branca pra paz, uma verde pra saúde, uma rosa pro amor poder entrar nos lares aflitos, como se vive depois da morte de um filho? Me custa o coração pensar, pesar...
Há dias em que me vejo encurralada, onde parece que escrever poemas é insignificante diante de tanta tragédia, mas a tragédia sempre existiu e os poetas sempre estiveram vivos, escrevendo, os atores sempre estiveram atuando, fazendo o povo sorrir diante da própria lida, da labuta, da dor...
Aí, entra de novo, a fé, o sol, a flor a se abrir, então, escuto um canto animado de um pássaro largo, que grita, arrebentando o céu azul que brilha, me sustento na paisagem, como Alberto Caeiro, e amo a vida, não porque sei o que ela é, mas sim porque ela sendo a vida [minha e de tantos outros] amo-a por isso...
Adiante, que isso é vida!

escrito by Solange Mazzeto

segunda-feira, 21 de julho de 2008

DESENHO

DESENHO

desenho um sorriso no meu rosto
e passo adiante o lápis...

tropeço e rabisco uma emoção rasa
que cheira licor [dos deuses]

da pena que sinto do meu coração
desenho uma lágrima
ela desce a escada
e desemboca
no fundo de minha alma

tenho uma esperança que canta toda manhã
faz festa, coisa de pirralha, coisa de criança

assim, desenho um traço que vai do seu pescoço ao meu
em espiral, rabisco no seu queixo um beijo
em sua fronte um mel

na língua que ainda teima em te querer
sinto o fel

mas isso eu apago, pego a borracha
e desenho em cima da sua marca
um deus...


texto by Solange Mazzeto

domingo, 20 de julho de 2008

Desenho

desenho um sorriso no meu rosto
e passo adiante o lápis...
tropeço e rabisco uma emoção rasa
que cheira licor [dos deuses]
da pena que sinto do meu coração
desenho uma lágrima
ela desce a escada
e desemboca
no fundo de minha alma
tem uma esperança que canta toda manhã
faz festa, coisa de pirralha, coisa de criança
assim, desenho um traço que vai do seu pescoço ao meu
em espiral, rabisco no seu queixo um beijo
e um desejo
em sua fronte um mel
na língua que ainda teima em te querer
sinto o fel
mas isso eu apago, pego a borracha
e desenho em cima da sua marca
um deus...


texto de Solange Mazzeto

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Contrita

alcanço o botão, apagar o vão, anseio de minh’alma
é o amor ter e não fenecer...
quer ato mais gostoso do que adormecer caído o colo do amor?
generoso me tomo em forma de rei, a rainha não morreu, o cavalo não viveu...
dumas, os pássaros saem de sua toca, rumos? o manto levanta o céu...
nem areia some da dor, nem a flor some da água
o anseio dobra a viga da estrada, o sexo aflora da prisão, o pão é sem nome, curvo me curvo de tua boca caiada de pó, curvo me curvo junto de sua pele dourada com minha alma sonada, e o corpo espiando o entardecer...

E por falar em dor

o tempo fita nossos olhos de um jeito tão irreal que no sonho a vida cria laços, o destino não termina, determina, cuida, massageia, o ego sobe a estrada vira...
nessa estrada nada mais nos cabe dar, o tempo perdido que se destinou, já foi, o amor não correspondido, deixa marcas indeléveis, resfriadas... a carne pena, a alma sai...
o bambu se enverga num raio de luz azul, a mancha amarela sobe num trem de fogo...
surdos, nos fazemos mudos... rompe-se no ar uma cortina de medo, a máscara corporal sofre, cheia de dedos, que virá? pra onde ir?
que buscar?
buscar o vão que a roupa afrouxa, buscar prisão dos anseios que assola a porta, bater no vidro que remexe a calma.
fundo, é fundo o buraco da dor, funda e tenebrosa... a dor...

Novo amor? É possível?

acreditar num novo amor
serei feliz novamente?
sonhos e realidade se misturam
tudo nubla...
conselhos, metas, finais de um tempo...
insana, que mulher não fica insana? o que sentir depois que o amor se foi? como permitir que a dor não se alastre ao ponto de que o chão seja um buraco aceitável?
mundo que formamos, cores que desbotam... mãos que se afrouxam... laços cor-de-rosa... que desmancham...

Ela

E lá estava ela, deitada entre os lençóis, ávida flutuando entre seus cabelos, que não sabia se cortava, pra quem sabe talvez cortar ele da cabeça de vez..., será, ela pensava, se eu cortar o cabelo bem curto, deixo de pensar nele?
Uma agonia quase febril dilatava seus poros, o rosto afogueado, a boca num rito de dor...
A punhalada nas costas lhe doía, o ouvido ouvia ainda a voz dele ressoando, e ela ainda queria saber dele, como estava? Mal? Bem? Contente? Sentiria falta dela?
Perguntas caprichosas, perguntas doentias, diziam as amigas... e ela? Pra ela? Como era?
Ela estava realmente com a alma doente? Acorrentada? Será?
Ela não sabia, mas o tempo lhe diria que a dor permanece na entranha, não teria outro pra dar o que esse cara dava? Ou existiria alguém melhor? Como as amigas apregoavam?
Ela não sabia naquele momento, ela não sabia, ou ela não queria saber mais também, o acervo cerebral estava esgotado, o tempo corroia lembranças, dilacerava o seu pensar, o raciocínio lhe turvava a visão, ela estava na burrice da paixão...



by Solange Mazzeto

Contando

Contando

Era um você
Era um ‘eu’
Assim meio no meio do mato, na mata...
Era um você atravessado em mim
Estirado em meu colo
Aconchegado em meus cabelos
Éramos nós
Amontoados nos lençóis
Segurando um no olho do outro
Buscando maneiras de sermos felizes
Arriscando uma etapa vinda de duas mãos
Que se unem e se sondam pelo espaço
Era um você misturado com um ‘eu’
E muitos laços...
Era felicidade isso
De um jeito tão certo de ser, que me comove até hoje em dia
Éramos um conjunto de obras, de plantas másculas e fêmeas
Agora é você
E é um ‘eu’

Solange Mazzeto
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