terça-feira, 28 de julho de 2009

Férias

Uma tarde de férias. Ali fomos nós assistir Harry Potter, calçamos botas, agasalho pesado, um batom na boca da mãe, da filha um brilho de morango, mãos dadas, cabelos ao vento, embaladas no ritmo que o amor tem, bilhetes comprados, chocolate comprado e compartilhado, nada de pipocas, não estávamos afim, nem de refrigerante, uma água com gás e outra sem gás.
O filme começa, já assistimos os outros, esse a filhota já tinha assistido e dito: não tem nada a ver com o Livro, cortaram partes importantes e ‘enfeitaram’ com o que não devia...
Como não li o Livro, eu gostei do filme. Um filme que faz pensar em magia, em poder, em ‘fantasia’.
Tem o toque todo fantasioso, mas sei lá, tem algo de tão mágico também, tão bom de ver o lado bom, o lado mau, parece que as histórias sempre se repetem, sempre tem o lado perverso, o lado sombrio, e o lado da luz, da esperança...
Além de tudo, tem o lado da bondade ingênua, da confiança plena, da morte e da vida.
De lá, fomos comer algo, bater pernas no Shopping, ver blusinhas aqui e ali, pés doendo dos saltos, bonito pacas mulher de salto, mas a gente sofre um pouco com isso, mas é elegante, sem querer a gente se apruma se empluma pro andar ficar mais cativante.
Enfim, uma tarde divertida, onde o tempo tão chuvoso, não despertou em nós a agonia, a depressão da falta de sol. Sampa anda cinza, tomara que São Pedro pare de ‘chorar’ e que o sol volte a brilhar.

texto by Solange Mazzeto

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Amor comprido

é um amor comprido
destilado
com cheiro de
saliva molhada no leite


é uma saudade que vai
e
não volta
que volta
e
que vai
e
bate
e
encontra um peito cansado de guerra
mas cheio de vida e mistério
mas não desses mistérios nervosos...


é um jeito sério de
sentir
com algo de engraçado
uma mistura que
inebria


Desse amor comprido
garanto-me a vontade da alegria
é um prazer tão pleno, tão bonito,
que os olhos salgam
e
piscam...



texto by Solange Mazzeto

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Miragem translúcida

sacudia o céu
num rosa tom choque
camuflado em rapel

tua imagem
minha

sacudia o vento
em tons marfins
em tom pastel

tua viagem
minha

sacudia o véu
cujo farfalhar
lembrava-me

teu gemido
meu



by Solange Mazzeto

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Guardo o amor dobrado




guardo o amor dobrado,
com papel timbrado
num selo real

guardo esse amor
que nasceu nas entranhas
gerado em pacto natural

guardo esse [meu] amor
no conceito perfeito
de duas almas de peito

guardo [você]
meu amor

guardo [você] amor

sim eu
o
guardo

texto by Solange Mazzeto
desconheço a autoria da imagem

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Almas... Todas

canta a viola no riacho
com o mundo rodando lá fora
esvai o céu com a acidez da mata,
o bicho solto durante uma madrugada
o peão vem solto e leva uma toada

murmúrios no campo
vela a vapor da estrada
a poeira está já a muito acelerada

paz, só isso que um homem quer
a tal da sonhada paz
que não vem de nada
só sopra dele mesmo
no fim da estiada


texto by Solange Mazzeto

terça-feira, 14 de julho de 2009

A COISA

A Coisa

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.

{Quintana}

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Fênix, sempre

fogueira,
tava quente, foi quente, pipocas explodindo
quente, muito quente, pelando
tomates na mão, tetas na mão, faces delirantes
explosão

cinzas inteiras
um sopro
e tudo
feneceu

tudo menos eu
me mantive bem
mesmo chamuscada

mas
...
salva!

texto by Solange Mazzeto

sábado, 11 de julho de 2009

Dia de [muita] chuva




Era uma manhã de sábado com chuva, tinindo lá fora, eu estava só em casa, filha já crescida, em férias e viajando, uns poucos dias, mas era quase estranho e ao mesmo tempo bom estar ao velho gosto de estar só, de ouvir minha própria respiração, de chorar uma lágrima, de suspirar pelo canto da sala, de cantar a música antiga das Frenéticas em frente ao espelho, e gargalhar de mim mesma, comigo mesma...
A chuva incessante não para um segundo, até pra dar comida pra minha cachorra, tive que ir de guarda-chuva, meio correndo, pra não me molhar...

Ia sair, ia ao cinema ver a Era do Gelo 3, ia só, porque gosto de ir só ao cinema, não sempre, mas pra variar eu curto isso, rir só, no meio de tanta gente rindo junto.

Gosto de ver quem chega ao cinema, como chega cada um ao seu estilo e jeito, a maioria com pipocas enormes, os sacos de pipocas estão cada vez maiores e com refil, mas acho as pipocas meio murchas, raramente estão fresquinhas, dia desses estava no interior de São Paulo e lá sim comi pipocas feitas na hora, com bastante molho de pimentas, coloquei tanta pimenta que escorregou pela minha mão, e me lembrei da minha infância... E de minha adolescência, tempo bom pra recordar. Dinheiro escasso por vezes, mas eu tinha uma alegria ímpar, tudo era bom pra mim, o passeio, o lanche, o sapato que só ganhava uma vez ao ano, em dia de Natal...

Melancolia saudosa, tempos esvoaçante de vestidos esvoaçantes, acho que é por isso que até hoje gosto muito de colocar vestidos, a sensação me agrada, restaura sempre algo de bom e prazeroso da minha vida.

Quase agora me vem à mente o gosto do beijo, beijar é bom né! O meu primeiro beijo foi ruim, muito ruim, cheguei em casa, escovando os dentes, a língua, o rosto, achei muito melado, babado, mas depois fui gostando e até hoje gosto muito do sabor do beijo na boca, o roçar da respiração, o estalido de beijinho rápido, o gemer do beijo demorado...
Mas, enfim, estou só num sábado pra lá de chuvoso. Vou acabar saindo de casa, acho que o ‘só’ já está me deixando estranha...





foto e texto by Solange Mazzeto

Camuflagem

Capas ao redor dos olhos, vestígios de falta de amor, de conceito, de educação. A mãe nada tem com isso, ou muito tem não me importa, nem tudo é culpa da mãe, insisto nisso, porque quantos marginais conseguem viver bem numa sociedade caótica, onde ele próprio foi filho de desastres de berço, conheço alguns, graças aos Céus tem gente que consegue sobreviver ao olho do furacão.

Minha mãe costuma dizer que sempre temos anjos ao nosso redor, Anjos de Deus que acampam ao nosso redor e nos protegem e nos guiam! E tem sim, pois Deus não é gente, mas Ele se faz gente através de nós [frase do querido Luís Gasparetto]

Mas, pra não perder o fio da meada, quanta gente coloca uma camuflagem e age assim durante milênios, sem quase nada querer aprender?[É porque pra aprender a gente tem que querer!] Alguns, e infelizmente conheço gente dessa natureza.

A mentira tem um fedor, que reconheço de longe, sabe que às vezes, eu quero me enganar e achar que estou 'sentindo' demais, é faço isso, afinal tenho meu instinto animal de camuflagem também, mas o legal em mim é que distingo isso em mim, aí é um grande passo pro meu progresso pessoal e intransferível de viver bem comigo mesma.

Eu gosto de estar comigo, não tenho necessidade de estar sempre rodeada de gente, acho que as pessoas que mais se camuflam, são as que mais têm necessidade de ter ‘acessórios’ a sua volta, estar nunca sozinho, sempre com muitos ‘amigos’ falando e rodeando, sei lá, posso estar enganada, se eu estiver um dia volto atrás disso tudo que escrevi e discursei, mas por enquanto é exatamente o que penso.


by Solange Mazzeto

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ir? Não ir

Ir, não ir, que fazer? Então escuto o som da chuva do lado de fora de minha casa, gotas grossas, curtas e longas, quase uma sinfonia do céu... A cabeça contradiz, é dois não, mil vezes a palavra sim, batendo que nem martelo no cérebro. A chuva poderia ser uma boa desculpa pra não ir, mas seria ao mesmo tempo uma desculpa esfarrapada. E também não sou feita de açúcar, ou sou?
Sabe que acho que sou meio ‘açuquinha’, que derrete com saliva! E então, vou? Fico?
Vou fazer um chá, amornar os lábios, derreter um chocolate meio amargo entre a língua e o céu da boca, sentir descer na garganta e deixar essa sensação crescer em mim, até eu decidir, até eu saber o que quero.
Sou contraditória, peso na balança, os prós e os contras, a balança pesa pro lado gostoso desse ir, mas e o lado ‘crespo’ da história?
Deixo pra lá?




texto by Solange Mazzeto

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Remoço na sombra de uma tarde

Uma tarde com band-aid, um coração meio torto, e nessa estrada lá ia, cantarolando pérolas, ziguezagueando das amebas...
Um pedaço de saudade na goela, uma pedra atirada no poço da covardia, um ou dois movimentos de pálpebras salgando a face.
Vontade de esfregar a lâmina de corte na ferida e abrir até escorrer sangue. Mas não havia mais vida nisso...
O mundo roda devagar quando a dor incomoda os ânimos. Cada qual faz seu mundo, miúdo ou felizmente graúdo.
Me sento na beirada da atitude, entro de soslaio, ou inteiramente faceira?
Claro que faceira, prefiro o corte na mão, do que a covardia de não tentar...
E assim remoço nas sardas de um rosto... [o meu]


by Solange Mazzeto

A hora do umbigo

O cheiro entrava, as narinas amanhecidas sentia o aroma de um olhar comprido, que ia da face até o umbigo, a vida mergulhava em rosas, todas sem nenhum espinho ou artifício, o adubo era escorregadio, fino... melancólico...
O café inalava a lembrança [quase tão forte, quanto aquele café que ela fazia...]
[O mundo é mesmo bolha de sabão quando a atmosfera eclode].
A fotografia estava ali pra ela espiar. Aborrecida com tanta ameba florindo seu jardim, dá o basta de misericórdia por ela mesma. Sobe ao banho, deixa sua pela macia e retira o esparadrapo do umbigo, o deixando falar...


by Solange Mazzeto

sábado, 4 de julho de 2009

Apresento à vocês meu poema que foi musicado

Melodia e voz: Carlos F. Ribeiro
Letra: Solange Mazzeto
Filmagem: Marlene Alves

http://www.youtube.com/watch?v=48Ul0I_Ix98

TODAS




toda manhã

ela se levanta

e senta na mesa com petulância

levanta a sobrancelha que nem criança

sacode o destino na lambança



toda tarde

ela alucina na distância

que tem o pé na abóbora de trança

que tem a ginga na saia e na dança



toda noite

ela fica na parede

encostada na janela

debruçada na calçada

vivenciando a sede que [a] balança


texto by Solange Mazzeto

desconheço a autoria da imagem

O que sou






sou feita de retalhos coloridos

gargalho livre

vôo pelo espaço

sou feita de espuma de sabão

sumo de limão

colcha pelo chão

adoro comer pão

não consigo viver e criar [bem] sem a tal da paixão

sou meio sapo no lago

disciplinada com bico de guardanapo

o que sou, é o que vejo, o que não sou, não dou conta

é só [coisa de] momento...

posso amar e ‘desamar’ em questão de segundos inteiros

isso é só questão de tempo

[mas o que é o tempo?]

se amo, é porque gosto, se não gosto não tem solução

mas amo fortemente, até quem não tenho direito

sou, contraditória...

vivo para o agora

é a solução de quem sabe que não tem hora


by Solange Mazzeto [imagem e texto]

Razões

"o olfato sabe de razões que o olho desconheçe"


frase by Solange Mazzeto

Prazer

em meio a sedas

toalha de banho

o cabelo preso no alto

uns fios escapam

água no seio

escorre lambendo a barriga

os pés sentem o espaço e voam...

livre

qual passarinho que sai do ninho

fresca, qual chuva de verão

térmica

.

.

.


by Solange Mazzeto

Só o tempo



era uma questão de tempo, de charme, de oportunidade

um estado febril de paixão, de náusea, manuseio, instabilidade,que pode levar a estabilidade

pra cada um, um meio e uma verdade, uma maneira de encarar a cara no espelho de mil faces, de ter dom de usar o que sabe e o que não sabe

atitudes passionais, sonhos demasiados na adrenalina, a cabeça cheia de éter, Arizona em cima de um cavalo.

a mente divaga, espaça, recebe, percebe, escapa

o ar chega quente, o inalar que agüente

o volume no cérebro vazou, o líquido da face escorreu e acho que nessa ninguém venceu...



texto by Solange Mazzeto

desconheço a autoria da imagem

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sombras

Sombras



o bule sobre a pia

cheira café frio



a melancolia queria colo



um dedo na memória

um rio sem saber



olhos adormecem

ao sabor do sal


texto by Solange Mazzeto

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pensei que não era sem classe pedir...





Pensei que não era sem classe pedir...
...pedir que Deus me trouxesse de volta, a jabuticaba dos dias de meus 6 anos de idade. Ela era tão doce, a casca tão fina... E tinha também a fruta-do-conde na árvore de minha meninice...
E a lua era tão maior que de agora?!
Ainda quando na réstia de luz de minha mente, me recordo de dias desses, o ar aprisionado em meu peito, das mágoas cantadas, saem todas e as asas de minhas costas voam contentes...
Não sou uma velha pra escrever assim, a meninice ainda clareia meus sonhos, minha boca ainda sorri em riso aberto, mas meu peito anda se fechando, quase calmo e sereno, e disso tenho é muito medo.
Mas, de medo, aprendi que é um fedelho de calças compridas, que destrói os ossos, e as vias de respiração, soube que medo derrete células, medo é um caroço de abacate na goela, e como tive a divindade de aprender a lidar com o tal, o mato agora e sem receio. Vai-te longe, oh! Sem graça, vai-te longe de mim...
Agora que aprendi a pedir, peço a Deus que o compreenda, e me compreenda afinal sinais de gelo, fumaças de alucinação, são fantoches da ira e da fraca imaginação...
Se te amo, eu te amo, e não tem mais solução, no meu seio estás guardado e deitado em meu coração, e sabes? O imagino sempre contente, com ar de gente satisfeita, qual gato estirado ao chão, daqueles gatos que amam uma réstia de sol, na brisa da janela, compreende? E sabe se esparramar sem medo, porque gato não tem medo de trepar na janela mais alta do sonho e miar, pedindo leite e um pouco de atenção...
Agora que sei pedir, peço, oh! Deus! Livrai-me sempre de qualquer entonação mais dolorida que eu possa vir a ter, por falta de minha própria atenção!
Dai-me Senhor o desejo de continuar atenta, com os olhos fogosos num céu ditoso de estrelas, onde a lua e o sol se vestem da mais macia seda,e que eu possa cavalgar na brisa, deixando a mente ser varrida pelos Elísios campos do céu...


texto by Solange Mazzeto

desconheço a autoria da imagem

Dá-me a tua mão [Clarice Lispector]

Dá-me a tua mão
Clarice LIspector
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Conjecturas



O céu está muito estrelado, a noção dos dias tortos deposita na mesa, uma goteira de desatenção. Um chá servido com carinho faz o milagre do agora, ser real.
Não há nada vazio, e tudo pode ser de um vazio muito profundo.
A pedra comprada é violeta, o presente não é esperado, mas será dado amanhã.


escrito by Solange Mazzeto

desconheço a autoria da imagem

Sete luas



fabuloso tempo
onde nasce e morre
o desejo

houve o sopro da alegria
em rimas

houve a sorte de ter
salivas
e
saliências

nesse tempo
[ sete luas]
almas se fundiram

houve pouco tempo para o sono
[com medo de acordar e ver que era sonho]

mas foi sonho?
por favor Vida me diga...




poema by Solange Mazzeto
desconheço a aurotia da imagem
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